Segunda eu estava numa aldeia em SP junto com um companheiro de trabalho, conversando com algumas lideranças, quando toca meu celular e uma amiga que estava no TJ acompanhando o julgamento pede para perguntarmos se seria possível os Kaiowá ficarem alojados na aldeia. Imaginamos que seria complicado acomodá-los, uma vez que eram 26 pessoas, incluindo algumas crianças. Mas novamente os Guarani Mbyá nos surpreenderam: imediatamente se articularam e disseram que sim, que poderiam recebê-los sem problema nenhum.
O que comove é a extrema solidariedade que presenciamos, pois apesar dos recursos escassos, os Guarani Mbyá fizeram o possível para receber seus parentes do MS com um jantar e com um carinho especial.
Estamos apreensivos, pois como me perguntou um amigo:
- Será que um dia, um matador de índio será punido nesse país??
É aterrorizante, mas o Estado do MS está promovendo um verdadeiro genocídio contra os Guarani-kaiowá. Acampados em beiras de estradas e numa situação de extrema vulnerabilidade, esse povo vem sofrendo perdas irreparáveis. Várias lideranças foram assassinadas brutalmente em decorrência de conflitos de terras e o sentimento anti-indígena na região borbulha. Tanto é que o MPF pediu a transferência do julgamento para SP por ficar em dúvida quanto à isenção dos jurados locais, uma vez que os fazendeiros tem grande influência na região.
Os dias estão sendo tensos, mas vamos esperar e acreditar que a justiça prevaleça!!
O cacique Marcos Veron, 72 anos, assassinado em 12 de janeiro de 2003 |