segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
sábado, 10 de dezembro de 2011
Eles querem seguir vivendo!!
Semana corrida. Em meio à tantas atividades, ontem tive o prazer de acompanhar Faride e Oriel, lideranças Guarani-Kaiowá, numa visita aos parentes Guarani-Mbya durante o dia. Foram longas conversas, manifestações de apoio e muito tererê. À noite receberam uma homenagem durante o lançamento do Relatório de Direitos Humanos no Brasil 2011, organizado pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos. Emocionados, falaram sobre a luta diária que travam para sobreviver diante de uma verdadeira situação de guerra, sem, no entanto, perderem a esperança de terem seus direitos respeitados.
Segundo dados do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), nos últimos 8 anos foram assassinados 250 indígenas no Mato Grosso do Sul. Hoje, vítima de toda essa violência, faleceu Rosalino Lopes, um líder que havia sido baleado por pistoleiros em 2009 e ficou paralítico desde então. Como podemos constatar, esses números não param de crescer, mostrando um quadro gravíssimo e assustador.
Diante de tanta atrocidade não podemos nos calar. Os Kaiowá fizeram um apelo e insistiram na importância de levantarmos a questão e discuti-la amplamente em todos os setores.
Domingo, 11/12/2011 às 14h, vai acontecer um ato na Av. Paulista, na praça Osvaldo Cruz. Um bom momento para conversarmos, ouvirmos as lideranças e refletirmos sobre essa violência institucionalizada. Afinal, eles querem seguir vivendo.
Oriel Benites, durante o lançamento do Comitê Nacional em Defesa das População Indígena do Mato Grosso do Sul na Câmara Municipal de São Paulo (foto: cnbb.org.br)
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Guarani-Kaiowá: a existência negada
Ontem, 06-12-2011 às 19h na Câmara Municipal de São Paulo ocorreu o lançamento do Comitê Nacional em Defesa da População Indígena do Mato Grosso do Sul. Encabeçado pela OAB do Mato Grosso do Sul e o Conselho Aty Guassu, o Comitê conta com a participação de diversas entidades e tem como objetivo recolher e encaminhar denúncias de violações de direitos humanos dentro e fora do Brasil.
Durante o evento, estavam presentes três lideranças Kaiowá do MS, Léia, Oriel e Faride, vários depoimentos e manifestações de apoio foram realizados. A antropóloga Lúcia Helena Rangel, professora da PUC de São Paulo e Egon Heck, representante do Cimi – MS, realizaram uma breve retrospectiva dos últimos ataques cometidos contra os Guarani – Kaiowá, alertaram para a violência institucionalizada contra esse povo, e também para o fato de que o enorme legado deixado pelos Guarani é pouco valorizado pela sociedade envolvente.
A nova estratégia adotada pelos pistoleiros para desviar o foco das investigações é o ocultamento dos corpos dos indígenas assassinados. Através da lógica perversa, típica dos anos de chumbo, em que “não havendo corpo, não há crime cometido”, os assassinos privam os Guarani-kaiowá do direito de existência, de os parentes das vítimas realizarem as cerimônias fúnebres tradicionais, tornando-os invisíveis diante do estado e da sociedade. Ainda disseminam a idéia de que os próprios indígenas são os responsáveis pelas mortes, numa tentativa atroz de incriminá-los. Mais uma situação em que presenciamos a criminalização da vítima.
A líder Guarani-Kaiowá Léia, num depoimento emocionado, falou sobre a incerteza do futuro e a angústia que paira sobre a comunidade:
“Queremos livrar nossos filhos desses caminhos das pessoas que nos odeiam. Ele estão mostrando um outro caminho, de que tem que morrer porque é indígena, que não tem direito à nada. Fazem as nossas crianças acreditarem que elas não existem, que eles não tem direito à vida, à terra e à liberdade. O Governo, não oferece a escola indígena que agora a gente reivindica com os professores, aí somos obrigados a colocar os nossos filhos nas escolas onde estudam os filhos dos fazendeiros, que muitas vezes humilham, com professores que não acreditam que os nossos filhos também podem aprender e, com isso, a nossa preocupação como mãe, como representante das mulheres Gurani-kaiowá, essa é a nossa preocupação maior. E pelas crianças que agora também estão sendo mortas pelos pistoleiros, como essas crianças que foram levadas junto com o nosso líder Nísio Gomes. Nós sabemos que eles não estão vivos, porque não encontramos eles até hoje. São crianças que lutam e que também estão morrendo pelas mãos desses assassinos que não escolhem as pessoas para matar. Peço que haja justiça, que vejam.”
Não basta apenas olharmos, é necessário agirmos e enfrentarmos essa situação absurda...
Léia e Egon durante o lançamento do Comitê - foto Luciana Galante
domingo, 4 de dezembro de 2011
Semana em Defesa da Terra, Vida e Futuro Guarani-Kaiowá
Na próxima terça-feira, dia 06, às 19 horas na Câmara Municipal de São Paulo, Lideranças indígenas Guarani Kaiowá representantes da Aty Guasu e organizações sociais lançarão o Comitê Nacional em Defesa da População Indígena de Mato Grosso do Sul.
O Comitê terá como objetivo recolher e encaminhar denúncias de violações de direitos humanos dentro e fora do Brasil.
As organizações que organizam o Comitê, em São Paulo, lembram que casos de violência, como o do cacique Nísio Gomes, recentemente executado a tiros por pistoleiros são frequentes.
De acordo com relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o Mato Grosso do Sul concentrou 55% dos casos de assassinatos de indígenas nos últimos oito anos. Foram 250 homicídios.
O Conselho Aty Guasu e organizações de apoio e solidárias aos povos indígenas convidam para aSemana em Defesa da Terra, Vida e Futuro Guarani-Kaiowá, a realizar-se no período de 05 a 08 de dezembro de 2011, na cidade de São Paulo.
Confira a programação de atos, debates, lançamento e homenagens:
- Dia 5 - Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, Plenário Juscelino Kubitschek
Av. Pedro Álvares Cabral, 201 - São Paulo – SP.
19hs: As lideranças acompanharão o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos oferecido para a advogada de Direitos Humanos Michael Mary Nolan e farão a leitura do Manifesto do Conselho Aty Guasu, elaborado no último 27 de novembro de 2011, no Mato Grosso do Sul.
- Dia 6 - Câmara Municipal de São Paulo, na Sala Tiradentes
Viaduto Jacareí, 100 - Bela Vista (próximo ao metrô Anhangabaú).
18hs30min: Entrevista coletiva com lideranças Guarani Kaiowá representantes da Aty Guasu
19hs30min: Lançamento do Comitê Nacional em Defesa da População Indígena de Mato Grosso do Sul, com a presença de representantes do Comitê, lideranças Guarani Kaiowá e da Dra. Lucia Helena Rangel, do Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP.
- Dia 7 - Centro da Cultura Judaica
Rua Oscar Freire, 2.500 - (próximo ao metrô Sumaré)
20hs30min: Exibição do Documentário “À Sombra de um Delírio Verde”, seguido de debate com as lideranças Guarani Kaiowá do MS.
- Dia 8 - Sesc Paulista
Avenida Paulista, 119 (próximo ao metrô Brigadeiro)
18hs30min: Homenagem e voz ao Povo Guarani Kaiowá durante o lançamento do Relatório de Direitos Humanos da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.
Contextualização
As entidades que abaixo subscrevem deliberaram por criar o Comitê Nacional de Defesa da População Indígena de Mato Grosso do Sul pelos motivos que passam a elencar abaixo:
De acordo com o Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mato Grosso do Sul tem o 2º maior número absoluto de habitantes indígenas do país, são 79.29 habitantes indígenas, o que representa 9% da população indígena do país.
Entretanto, apesar de terceiro em população proporcional, Mato Grosso do Sul, de acordo com o último [1] relatórios do Cimi, concentrou 55% dos casos de assassinatos de indígenas no País nos últimos oito anos, sendo disparado o primeiro do Brasil.
Em 2008 foram 70%; em 2010, 57% e nos primeiros nove meses deste ano, 27 indígenas foram assassinados dos 38 assassinatos ocorridos no País, o que representa 71% da totalidade.
Conforme o relatório, neste período, foram registradas aproximadamente 190 tentativas de assassinatos, 176 suicídios e mais de 70 conflitos por terras.
O Estado concentra 31 acampamentos indígenas com “mais de 1200 famílias vivendo em condições subumanas à beira de rodovias ou sitiados em fazendas”
Dessas etnias, o povo Kaiowá Guarani é o mais numeroso e o que mais tem sido vítima da sonegação dos direitos humanos fundamentais.
O número elevado de suicídios, alcoolismo, jovens indígenas sendo usados como “mulas” para o tráfico de drogas, exploração da mão-de-obra indígena de forma degradante nas usinas de álcool.
De acordo com dados do INFOPEN de dezembro de 2010, o Estado de Mato Grosso do Sul detém a segunda maior população carcerária indígena do Brasil, com mais de 100 índios encarcerados nas prisões do estado sem assistência jurídica adequada.
Pelas contas do Conselho Indigenista Missionário, nos últimos oito anos, 250 indígenas foram assassinados em Mato Grosso do Sul e muitos crimes ainda se encontram sem solução, com investigações inconclusas e mandantes não responsabilizados.
É importante salientar que as terras tradicionalmente ocupadas por indígenas em Mato Grosso do Sul foram expropriadas e alienadas pelo estado na década de 40 do século passado como forma de colonização do território nessa região. Expulsar os indígenas e fixar os fazendeiros nessas áreas para legitimar a política oficial de povoamento resultou em um processo de confinamento e redução dos territórios indígenas, sendo extremamente nociva e desumana para as etnias submetidas a essa medida.
O que se deu no passado, no então estado de Mato Grosso, é que as terras tradicionalmente ocupadas pelas comunidades indígenas foram consideradas terras devolutas, alienadas e tituladas indevidamente. Esse erro precisa ser reparado hoje, uma vez que a população indígena vem crescendo e encontra-se confinada em pequenas áreas, o que a motiva a reivindicar seus antigos territórios. O Estado brasileiro continua omisso em buscar uma alternativa jurídica que evite injustiças a qualquer um dos lados que reclamam por direitos, o que estimula a violência e o conflito direto entre fazendeiros e indígenas, em continuo acirramento.
Prova desse acirramento contínuo foi o que ocorreu no ultimo episódio de barbárie, visto que, um grupo de cerca de 40 pistoleiros, armados e encapuzados, invadiu no dia 18/11 (apenas alguns dias após a divulgação do ultimo relatório do Cimi) de manhã um acampamento de índios guaranis no município de Amambaí. De acordo com informações dos índios, que presenciaram os fatos, o ataque era contra o cacique Nísio Gomes. Ele foi executado a tiros e, segundo depoimentos dos indígenas, teve o corpo arrastado pelos pistoleiros e jogado em uma caçamba de camioneta e levado para local ignorado, o indígena é considerado morto pelos indígenas e desaparecido para as autoridades.
Dessa forma, e pelos motivos acima, a criação do presente Comitê pretende praticar todas as ações legais e pacificas necessárias para que os direitos humanos dos índios sul-mato-grossenses sejam respeitados.
Solidarizam-se e apoiam as ações:
Conselho Indigenista Missionário - CIMI
Comissão Pastoral da Terra - CPT
Pastoral Indigenista de São Paulo
Programa Pindorama da Pontifícia Universidade de Católica de São Paulo (PUC SP)
Museu da Cultura da PUC SP
Assembleia Popular de São Paulo
Instituto Terra, Trabalho e Cidadania
Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos
NEMA-PUC (Núcleo de Estudos de Etnologia indígena, meio ambiente e populações tradicionais);
Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas
Grupo Justiça e Paz Irmã Dorothy e Vida Religiosa Inserida - CRB SP
Conferência dos Religiosos/as do Brasil - CRB SP e MS
Fórum de Participação da V CELAM
Comissão de Articulação dos Povos Indígenas de São Paulo
Centro de Orientação da Família - Mauá –SP
Pastoral Operária Nacional
Pastoral da Mulher Marginalizada
Pastoral Afro de Heliópolis -SP
Casa da Solidariedade de São Paulo
Fórum em Defesa da Vida de São Paulo
Sociedade Santos Mártires
Associação Mãe Zazá
Centro de Direitos Humanos e Educação Popular – CDHEP
Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana – Condepe
SPM - Serviço de Pastoral do Migrante
Grito dos Excluídos Nacional
Serviço Franciscano de Solidariedade – SEFRAS
Instituto Socioambiental - ISA
Comissão Pró Índio - CPI
Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo
Fórum das Pastorais Sociais da Arquidiocese de São Paulo
Movimento de Alfabetização do ABC
Missionários Oblatos de São Paulo
Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular - CESEEP
Atualizações, favor enviar no e-mail ecosdaarte@yahoo.com.br
Com o título do assunto: Assinatura de Apoio ao Povo Guarani
O líder Kaiowá Nísio Gomes, assassinado em 18-11-2011
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Vamos todos assoviar, chupar cana e comer soja?
Final de semana pesado. Após o assassinato de Nísio, uma liderança Kaiowá-Guarani, na manhã de sexta-feira 18/11/2011, muita gente indignada me perguntou: “O que podemos fazer?”. Nísio é mais um que tomba, resultado da ação de milícias armadas travestidas de empresas de segurança, contratadas por fazendeiros no MS. Esse poder paralelo, que vem intimidando até agente da Polícia Federal, está a serviço do “direito à propriedade”, jargão aclamado por muitos. Afinal, o discurso do agronegócio está sempre atrelado à “eficiência” e “produtividade”, necessários ao “desenvolvimento” do país. É um discurso que cola, pois como se encontra intimamente ligado a valores patriarcais e moralistas, a concentração fundiária signifca poder e honra.
O avanço das fronteiras agrícolas no país, seja para monocultura de soja ou cana, está transformando o ambiente e provocando um verdadeiro genocídio entre os Kaiowá. Inseridos no rol dos refugiados ambientais, os Kaiowá-Guarani são expulsos de seus territórios tradicionais e lançados a situações degradantes e de extrema vulnerabilidade, com violações de todo tipo.
Não podemos ser coniventes. Vejo gente se mobilizando por muito menos, até mesmo para ter o “direito” de estacionar o carro sobre uma ciclovia, mas quando se trata de um coletivo ameaçado, como é o caso, a resposta é o silêncio. É urgente que as pessoas se mobilizem, coloquem a questão em pauta, cobrem do poder público, além de discutir os atuais padrões de consumo. Caso contrário, vamos assistir passivamente, assoviando e chupando cana, o extermínio de outros líderes indígenas que, inclusive, já estão na lista dos assassinos.
Nísio - foto de Eliseu Lopes
domingo, 4 de setembro de 2011
“O céu que nos protege”
Trabalhar com o povo Kanamari foi uma das experiências mais intensas que tive. Esse povo vive na região do Médio Juruá no Amazonas e fala uma língua da família Katukina. Foram muito receptivos comigo desde o início e logo de cara os admirei pelo bom humor característico. A maioria não fala português e quando fala, se restringe aos homens, especificamente os líderes.
Como a população encontrava-se dividida em pouco mais de dez aldeias, visitá-las era uma tarefa infindável: as longas distâncias que percorríamos pelo rio Juruá exigiam disposição, coragem , um barco em perfeitas condições e uma enorme quantidade de combustível.
Muitas vezes as viagens eram tão longas que eu e meus companheiros de equipe passávamos dias no rio para chegarmos numa das aldeias. Navegar contra a corrente do Juruá, a 12 km/h, me fez questionar o tempo e finalmente entender que este é relativo. Paulistana de nascença e ansiosa por natureza, viver em outro “tempo” foi um poderoso exercício e me fez muito bem.
Em uma ocasião, chegamos numa das aldeias Kanamari ao cair da tarde. As crianças vieram correndo nos receber e logo estávamos na casa de uma liderança comendo um peixe com farinha.
A noite veio, revelando um céu que eu nunca tinha visto, pois eram tantas estrelas que só mesmo a ausência de eletricidade poderia revelar. Obcecada com o espetáculo astronômico, fiquei horas olhando atentamente para o céu quando notei um ponto luminoso, parecendo uma estrela, mas que tinha movimento próprio. Cada vez mais intrigada com a “estrela que se movia”, procurei um outro ponto de observação sem notar que eu mesma estava sendo observada. Em certos momentos o ponto luminoso parecia aumentar enquanto minha mente fazia mil especulações sobre OVNIs e a possibilidade de vida extraterrestre. Afinal, seria privilegiada se pudesse somar essa experiência ao contexto em que me encontrava: no meio da floresta amazônica, numa área isolada, vivendo com um povo fantástico.
No entanto, Kadji, um rapaz que morava na aldeia se juntou a mim e começou a olhar para o mesmo ponto. Vendo que eu estava boquiaberta tentando entender o fenômeno, ele me cutuca e solta numa mistura de português com sotaque Kanamari, acabando com o mistério:
- Satelití!!
domingo, 12 de junho de 2011
Conheçam Xochipilli, o príncipe asteca.
Um pouco sobre a América pré-colombiana...
Como se sabe, os Astecas possuíam uma organização social complexa , assim como sua religiosidade.
Uma importante divindade cultuada por este povo era Xochipilli, considerado o príncipe das flores (Xochi = flores; pilli = príncipe), mas também associado às artes, aos jogos, à juventude, ao milho e também às canções.
Esta divindade é representada através de uma belíssima estatueta encontrada próxima a um vulcão em Tlalmanalco no México:
Se repararmos na imagem, podemos encontrar diversas espécies vegetais representadas. Richard Evans Schultes, um famoso etnobotânico, identificou as espécies eternizadas na estatueta e as identificou:
Essa é uma pequena amostra do legado científico dos povos ameríndios. Inclusive, diversas espécies indicadas na estatueta são utilizadas por povos indígenas brasileiros. Um tema fascinante e que deve ser socializado, pois a valorização dos povos da América Latina depende da divulgação desses conhecimentos.
domingo, 8 de maio de 2011
O sangue latino de Eduardo Galeano
Nascido em Montevideo 1940, o escritor uruguaio Eduardo Galeano respira América Latina, é um poeta e também um provocador. Sua trajetória como jornalista e escritor começa quando vendeu sua primeira charge aos 14 anos ao jornal socialista El Sol. No começo da década de 60, transitou pelos jornais Marcha e Época, trabalhando neste último como editor.
Em 1971 publicou As Veias Abertas da América Latina, sua obra mais conhecida e impactante. Nela, faz uma análise crítica da exploração econômica e política sofrida pelos países da América Latina desde o processo de colonização.
Obrigado a deixar o Uruguai devido ao golpe militar em 1973, buscou refúgio na Argentina onde lançou uma revista sobre cultura chamada Crisis. No entanto, em 1976 o golpe militar na Argentina colocou seu nome na lista dos esquadrões de morte e temendo por sua vida, exilou-se na Espanha.
Só voltou ao Uruguai em 1985, quando o país iniciou o processo de redemocratização, vivendo até hoje em Montevideo.
Com várias obras publicadas como a trilogia Memória do fogo (1982-1986), o Livro dos Abraços (1989), Mulheres (1997), O Teatro do Bem e do Mal (2002) e tantas outras que deixo de fora, Galeano é um escritor ímpar, pois consegue trazer à tona, com muita crítica e poesia, episódios que a história oficial ocultou. Definindo-se como "o escritor que remexe no lixão da história mundial", suas obras deveriam ser leitura obrigatória em todos os estabelecimentos de ensino.
" O medo ameaça,
Se você ama, terá AIDS,
Se fuma, terá câncer,
Se respira, terá contaminação,
Se bebe, terá acidentes,
Se come, terá colesterol,
Se fala, terá desemprego,
Se caminha, terá violência,
Se pensa, terá angústia,
Se duvida, terá loucura,
Se sente, terá solidão."
Eduardo Galeano
Acessem o link e assistam ao documentário Sangue Latino:
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Ser ou não ser...vegetariano!
Aderi à dieta vegetariana há 3 anos, mas gosto de dizer que "estou" e não que "sou" vegetariana . Apesar de eu simpatizar com o vegetarianismo há muito tempo, enfrentava o dilema que a maioria dos carnívoros enfrenta: como deixar de comer carne?
Confesso que meus filhos me deram um empurrão, pois, num acampamento que fizemos num sítio Hare Krishna, eles brincaram e interagiram com diversos animais, incluindo os que são comida em potencial. Quando chegamos em casa, ao colocar um frango assado na mesa, fui bombardeada por protestos: como é que eu tinha coragem de colocar um "amigo" na mesa, etc, etc. Esse evento foi decisivo pois a partir daí foi consenso que seguiríamos uma dieta vegetariana.
No começo não foi nada fácil, não pelo fato de substituir a carne por outros alimentos (a literatura e um bom nutricionista ajudam muito) mas pela praticidade que a industrialização nos oferece. Afinal, é mais fácil e rápido fritar um bife do que preparar uma abobrinha.
Mas o que me causa estranheza é a reação de algumas pessoas quando são informadas sobre nossa dieta. Uns ficam indignados, pois acreditam que fomos vítimas de "lavagem cerebral", outros ficam aflitos pois "não sabem o que vão nos dar para comer" e outros acreditam que vou matar meus filhos com uma dieta carente de proteínas...Difícil a conversa...
Creio que qualquer mudança de comportamento provoca reações, mas nunca pensei que a dieta alimentar pudesse causar tanta balbúrdia. Obviamente, não gosto de radicalizar. Qualquer um pode comer carne perto de mim que não vou repreender ou fazer cara feia. Respeito a opção das pessoas e gosto quando respeitam a minha. Agora, quando me perguntam quais os motivos que me levaram à aderir ao vegetarianismo, costumo responder que ele é principalmente político.
Os recursos utilizados pelo mercado da carne são estratosféricos. Só como exemplo, se substituíssemos a área, água e energia utilizada nos pastos e utilizássemos na produção de vegetais, poderíamos alimentar um número maior de pessoas. Outro ponto forte é o tratamento dado aos animais. A maioria fica em situação de confinamento e privação chegando ao limite de praticar canibalismo, fato muito comum entre os suínos, por exemplo. Os criadores solucionam o problema extraindo-lhes os dentes e as caudas. Já as aves têm o bico queimado para que não machuquem umas às outras. Poderia citar aqui uma lista sem fim das torturas praticadas nos abatedouros. Mas não é o caso.
Não acredito que consumir carne justifica os maus tratos a esses animais. É essa relação que mais me incomoda, pois ao tratarmos esses seres como meros objetos que devem nos servir, sua "existência" é negada o que facilita o extermínio. Sei como é, já agi assim com cobaias quando realizava pesquisas em laboratório. Transformava-os em objetos para poder trabalhar até o dia em que me dei conta de que eles, assim como eu, estavam "vivos". Difícil é esquecer suas reações...
Confesso que meus filhos me deram um empurrão, pois, num acampamento que fizemos num sítio Hare Krishna, eles brincaram e interagiram com diversos animais, incluindo os que são comida em potencial. Quando chegamos em casa, ao colocar um frango assado na mesa, fui bombardeada por protestos: como é que eu tinha coragem de colocar um "amigo" na mesa, etc, etc. Esse evento foi decisivo pois a partir daí foi consenso que seguiríamos uma dieta vegetariana.
No começo não foi nada fácil, não pelo fato de substituir a carne por outros alimentos (a literatura e um bom nutricionista ajudam muito) mas pela praticidade que a industrialização nos oferece. Afinal, é mais fácil e rápido fritar um bife do que preparar uma abobrinha.
Mas o que me causa estranheza é a reação de algumas pessoas quando são informadas sobre nossa dieta. Uns ficam indignados, pois acreditam que fomos vítimas de "lavagem cerebral", outros ficam aflitos pois "não sabem o que vão nos dar para comer" e outros acreditam que vou matar meus filhos com uma dieta carente de proteínas...Difícil a conversa...
Creio que qualquer mudança de comportamento provoca reações, mas nunca pensei que a dieta alimentar pudesse causar tanta balbúrdia. Obviamente, não gosto de radicalizar. Qualquer um pode comer carne perto de mim que não vou repreender ou fazer cara feia. Respeito a opção das pessoas e gosto quando respeitam a minha. Agora, quando me perguntam quais os motivos que me levaram à aderir ao vegetarianismo, costumo responder que ele é principalmente político.
Os recursos utilizados pelo mercado da carne são estratosféricos. Só como exemplo, se substituíssemos a área, água e energia utilizada nos pastos e utilizássemos na produção de vegetais, poderíamos alimentar um número maior de pessoas. Outro ponto forte é o tratamento dado aos animais. A maioria fica em situação de confinamento e privação chegando ao limite de praticar canibalismo, fato muito comum entre os suínos, por exemplo. Os criadores solucionam o problema extraindo-lhes os dentes e as caudas. Já as aves têm o bico queimado para que não machuquem umas às outras. Poderia citar aqui uma lista sem fim das torturas praticadas nos abatedouros. Mas não é o caso.
Não acredito que consumir carne justifica os maus tratos a esses animais. É essa relação que mais me incomoda, pois ao tratarmos esses seres como meros objetos que devem nos servir, sua "existência" é negada o que facilita o extermínio. Sei como é, já agi assim com cobaias quando realizava pesquisas em laboratório. Transformava-os em objetos para poder trabalhar até o dia em que me dei conta de que eles, assim como eu, estavam "vivos". Difícil é esquecer suas reações...
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Que Nhanderu faça com que a verdade e a justiça prevaleçam
Semana difícil, começou agitada. A chegada dos Guarani-kaiowá do MS , provocou comoção nas comunidades Guarani Mbyá de SP. O motivo: julgamento dos assassinos do cacique Marcos Veron, crime ocorrido em 2003.
Segunda eu estava numa aldeia em SP junto com um companheiro de trabalho, conversando com algumas lideranças, quando toca meu celular e uma amiga que estava no TJ acompanhando o julgamento pede para perguntarmos se seria possível os Kaiowá ficarem alojados na aldeia. Imaginamos que seria complicado acomodá-los, uma vez que eram 26 pessoas, incluindo algumas crianças. Mas novamente os Guarani Mbyá nos surpreenderam: imediatamente se articularam e disseram que sim, que poderiam recebê-los sem problema nenhum.
O que comove é a extrema solidariedade que presenciamos, pois apesar dos recursos escassos, os Guarani Mbyá fizeram o possível para receber seus parentes do MS com um jantar e com um carinho especial.
Estamos apreensivos, pois como me perguntou um amigo:
- Será que um dia, um matador de índio será punido nesse país??
É aterrorizante, mas o Estado do MS está promovendo um verdadeiro genocídio contra os Guarani-kaiowá. Acampados em beiras de estradas e numa situação de extrema vulnerabilidade, esse povo vem sofrendo perdas irreparáveis. Várias lideranças foram assassinadas brutalmente em decorrência de conflitos de terras e o sentimento anti-indígena na região borbulha. Tanto é que o MPF pediu a transferência do julgamento para SP por ficar em dúvida quanto à isenção dos jurados locais, uma vez que os fazendeiros tem grande influência na região.
Os dias estão sendo tensos, mas vamos esperar e acreditar que a justiça prevaleça!!
Segunda eu estava numa aldeia em SP junto com um companheiro de trabalho, conversando com algumas lideranças, quando toca meu celular e uma amiga que estava no TJ acompanhando o julgamento pede para perguntarmos se seria possível os Kaiowá ficarem alojados na aldeia. Imaginamos que seria complicado acomodá-los, uma vez que eram 26 pessoas, incluindo algumas crianças. Mas novamente os Guarani Mbyá nos surpreenderam: imediatamente se articularam e disseram que sim, que poderiam recebê-los sem problema nenhum.
O que comove é a extrema solidariedade que presenciamos, pois apesar dos recursos escassos, os Guarani Mbyá fizeram o possível para receber seus parentes do MS com um jantar e com um carinho especial.
Estamos apreensivos, pois como me perguntou um amigo:
- Será que um dia, um matador de índio será punido nesse país??
É aterrorizante, mas o Estado do MS está promovendo um verdadeiro genocídio contra os Guarani-kaiowá. Acampados em beiras de estradas e numa situação de extrema vulnerabilidade, esse povo vem sofrendo perdas irreparáveis. Várias lideranças foram assassinadas brutalmente em decorrência de conflitos de terras e o sentimento anti-indígena na região borbulha. Tanto é que o MPF pediu a transferência do julgamento para SP por ficar em dúvida quanto à isenção dos jurados locais, uma vez que os fazendeiros tem grande influência na região.
Os dias estão sendo tensos, mas vamos esperar e acreditar que a justiça prevaleça!!
O cacique Marcos Veron, 72 anos, assassinado em 12 de janeiro de 2003 |
domingo, 30 de janeiro de 2011
BBB de indigenistas
Tive que sumir um tempo do blog. Motivo: ficar trancada numa chácara ministrando um curso de formação de indigenistas. Indigenistas trabalham com comunidades indígenas e, nesse caso, os cursistas eram provenientes de todos os cantos do Brasil.
Experiência bacana, já que pude ter uma idéia da situação vivida pelos povos indígenas que habitam os lugares que consideramos os mais ermos do país. Mas outra hora escrevo sobre isso.
O que é muito curioso e todo ano observo a mesma coisa (já é o quarto..rs), é a reação dos "confinados". Só para esclarecer: o curso dura 20 dias e o conteúdo é bem denso. Assim, as pessoas passam por várias fases, que eu classifico em 6:
Fase 1 - Todo mundo acha bacana, novidades são sempre legais.
Fase 2 - O curso começa a pesar, o companheiro de quarto já não é tão legal assim.
Fase 3 - As obrigações diárias vão ficando insuportáveis, as panelas vão se formando.
Fase 4 - Os conflitos começam: discussões acaloradas, valores colocados à prova.
Fase 5 - Surtos, choros, sensação de impotência ao extremo.
Fase 6 - Recuperação lenta (após nossas orientações e tentativas de convencê-los da importância do papel de cada um..) e retomada da confiança no trabalho.
Felizmente, quando chega o momento de voltar para suas casas e seus trabalhos, o pessoal já está mais tranquilo e confiante. No entanto, é curioso analisar o comportamento humano em situações diferenciadas. Fico imaginando como deve ser vivenciar uma situação limite como uma guerra civil, um desastre natural (como o que ocorreu no RJ). Aliados à privações, o confinamento e a sensação de impotência tornam-se uma verdadeira bomba relógio, onde as emoções se sobrepõem à racionalidade. Não foi à toa que os mineiros do Chile impressionaram...
Experiência bacana, já que pude ter uma idéia da situação vivida pelos povos indígenas que habitam os lugares que consideramos os mais ermos do país. Mas outra hora escrevo sobre isso.
O que é muito curioso e todo ano observo a mesma coisa (já é o quarto..rs), é a reação dos "confinados". Só para esclarecer: o curso dura 20 dias e o conteúdo é bem denso. Assim, as pessoas passam por várias fases, que eu classifico em 6:
Fase 1 - Todo mundo acha bacana, novidades são sempre legais.
Fase 2 - O curso começa a pesar, o companheiro de quarto já não é tão legal assim.
Fase 3 - As obrigações diárias vão ficando insuportáveis, as panelas vão se formando.
Fase 4 - Os conflitos começam: discussões acaloradas, valores colocados à prova.
Fase 5 - Surtos, choros, sensação de impotência ao extremo.
Fase 6 - Recuperação lenta (após nossas orientações e tentativas de convencê-los da importância do papel de cada um..) e retomada da confiança no trabalho.
Felizmente, quando chega o momento de voltar para suas casas e seus trabalhos, o pessoal já está mais tranquilo e confiante. No entanto, é curioso analisar o comportamento humano em situações diferenciadas. Fico imaginando como deve ser vivenciar uma situação limite como uma guerra civil, um desastre natural (como o que ocorreu no RJ). Aliados à privações, o confinamento e a sensação de impotência tornam-se uma verdadeira bomba relógio, onde as emoções se sobrepõem à racionalidade. Não foi à toa que os mineiros do Chile impressionaram...
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