quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Guarani-Kaiowá: a existência negada


Ontem, 06-12-2011 às 19h na Câmara Municipal de São Paulo ocorreu o lançamento do Comitê Nacional em Defesa da População Indígena do Mato Grosso do Sul. Encabeçado pela OAB do Mato Grosso do Sul e o Conselho Aty Guassu, o Comitê conta com a participação de diversas entidades  e tem como objetivo recolher e encaminhar denúncias de violações de direitos humanos dentro e fora do Brasil.
Durante o evento, estavam presentes três lideranças Kaiowá do MS, Léia, Oriel e Faride, vários depoimentos e manifestações de apoio foram realizados. A antropóloga Lúcia Helena Rangel, professora da PUC de São Paulo e Egon Heck, representante do Cimi – MS, realizaram uma breve retrospectiva dos últimos ataques cometidos contra os Guarani – Kaiowá,  alertaram para a violência institucionalizada contra esse povo,  e também para o fato de que o enorme legado deixado pelos Guarani é pouco valorizado pela sociedade envolvente.  
A nova estratégia adotada pelos pistoleiros para desviar o foco das investigações é o ocultamento dos corpos dos indígenas assassinados. Através da lógica perversa, típica dos anos de chumbo, em que “não havendo corpo, não há crime cometido”, os assassinos privam os Guarani-kaiowá do direito de existência, de os parentes das vítimas realizarem as cerimônias fúnebres tradicionais, tornando-os invisíveis diante do estado e da sociedade. Ainda disseminam a idéia de que os próprios indígenas são os responsáveis pelas mortes, numa tentativa atroz de incriminá-los. Mais uma situação em que presenciamos a criminalização da vítima.
A líder Guarani-Kaiowá Léia, num depoimento emocionado, falou sobre a incerteza do futuro e a angústia que paira sobre a comunidade:

Queremos livrar nossos filhos desses caminhos das pessoas que nos odeiam. Ele estão mostrando um outro caminho, de que tem que morrer porque é indígena, que não tem direito à nada. Fazem as nossas crianças acreditarem que elas não existem, que eles não tem direito à vida, à terra e à liberdade. O Governo, não oferece a escola indígena que agora a gente reivindica com os professores, aí somos obrigados a colocar os nossos filhos nas escolas onde estudam os filhos dos fazendeiros, que muitas vezes humilham, com professores que não acreditam que os nossos filhos também podem aprender e, com isso, a nossa preocupação como mãe, como representante das mulheres Gurani-kaiowá, essa é a nossa preocupação maior. E pelas crianças que agora também estão sendo mortas pelos pistoleiros, como essas crianças que foram levadas junto com o nosso líder Nísio Gomes. Nós sabemos que eles não estão vivos, porque não encontramos eles até hoje. São crianças que lutam e que também estão morrendo pelas mãos desses assassinos que não escolhem as pessoas para matar. Peço que haja justiça, que vejam.

Não basta apenas olharmos, é necessário agirmos e enfrentarmos essa situação absurda...

Léia e Egon durante o lançamento do Comitê - foto Luciana Galante

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