Cheguei em Tekoa Pyau ontem e encontrei a aldeia mergulhada em tristeza, em luto novamente. Não está sendo um ano fácil, ocorreram muitas baixas em pouco tempo. Dessa vez, quem virou estrela foi Rodinei, um jovem Guarani de 22 anos, vítima de atropelamento na Rodovia dos Bandeirantes. Ainda não se sabe ao certo quais foram as circunstâncias do acidente. Sabemos que foi à noite, por volta das 21h e que ele estava acompanhado de dois amigos. Ambos não conseguem falar, estão em estado de choque.
Rodinei fazia parte de um grupo de jovens na aldeia muito articulado, envolvido com questões de interesse coletivo e, como disseram os Guarani, um rapaz muito tranquilo, prestativo e que seguia arandu porã (o bom conhecimento), o que significa, segundo a tradição, que sua conduta era impecável. Rodinei deixou mulher e dois filhos pequenos.
Vale ressaltar que este não foi o único caso de atropelamento nas proximidades da aldeia. Ano passado a Rodovia dos Bandeirantes também fez vitimas.
Espremida pela Estrada Turística do Jaraguá e pela Rodovia dos Bandeirantes, as lideranças de Tekoa Pyau há tempos temem pela segurança de seus moradores, sobretudo as crianças, já que estas precisam atravessar a estrada para frequentar a escola.
É urgente discutir a vulnerabilidade em que se encontram os moradores de Tekoa Pyau e que o poder público garanta sua segurança.
Impressiona como o legado bandeirante atravessa a história e perpetua o medo: Anhanguera, Bandeirantes e Raposo Tavares são apenas alguns exemplos de como o nosso estado glorifica aqueles que espalharam terror, escravizaram assassinaram e, mesmo indiretamente, continuam massacrando indígenas.
Rodovia dos Bandeirantes, ao fundo o Pico do Jaraguá
(Foto: Daniel Souza Lima)
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