quinta-feira, 29 de março de 2012

Oca di Versos - evento contempla diversidade cultural indígena



Com o objetivo de divulgar e valorizar a diversidade cultural indígena, o evento Oca di Versos que ocorre no Parque da Água Branca contará com uma programação diversificada. Estarei na abertura (01-04) participando de um bate-papo sobre a questão indígena, oficina de peteca e jogo da onça (jogo de tabuleiro indígna). Participem!!







Sao Paulo (SP) 24.02.2000 Foto: Juca Varella / Folha Imagem - ESPECIAL DOMINGO - Arua Pataxo, 25, na reserva da Jaqueira, onde indios tentam preservar sua cultura.

                                                         Na foto, índio Pataxó da reserva da Jaqueira, em Porto Seguro, Bahia
Evento Oca di Versos
ONDE: Espaço de Leitura do Parque da Água Branca (r. Ministro Godói, 180, Perdizes; tel. 0/XX/11/2588-5918)

QUANTO: grátis
VEJA PROGRAMAÇÃO
1 de abril - Abertura 11hs
Tema: Mundo Indígena Contemporâneo
- Bate-papo & oficina de petecas e jogo da onça com Luciana Galante
Luciana Galante é antropóloga formada pela PUC-SP. Trabalhou com as comunidades Kulina e Kanamari no Amazonas. Desenvolve projetos de etnobiologia com os Guarani Mbya de São Paulo
7 de abril -11hs
Tema: Mundo Pataxó
- Oficina de grafismo indígena com Garapirá Pataxó
Garapirá vive na Aldeia Barra Velha ao sul da Bahia e é artista plástico. Trabalha com pinturas corporais ou grafismos indígenas feitas com jenipapo e carvão
8 de abril -11hs
Tema: Mundo Kaingang
- Apresentação da escritora indígena Luciana Kaingang
Vãngri é da etnía Kaingáng nascida na Aldeia de Ligeiro, Município de Tapejara, Rio Grande do Sul. Escritora indígena, contadora de histórias e educadora bilíngüe pelo Instituto Kaingáng, na Aldeia Serrinha, Rio Grande do Sul
14 de abril - 11hs
Tema: Mundo Munduruku
- Apresentação do escritor indígena Daniel Munduruku
Escritor de literatura indígena brasileiro, Daniel Munduruku e graduado em Filosofia com doutorado em Educação. Seu livro "Meu avô Apolinário" ganhou menção honrosa da Unesco
15 de abril - 11hs
Tema Mundo Munduruku
- Oficina de Ilustração indígena com Maurício Negro
Ilustrador, escritor e designer gráfico
21 de abril - 11hs
Tema: Mundo Nheengatu
- Oficina de máscaras dos caras-pretas em nheengatu com a ilustradora Aline Binns e João Paulo Ribeiro
Aline é multi-artista e João Paulo Ribeiro é aluno de Linguística USP. Pesquisa a área de Revitalização de Línguas Indígenas
22 de abril - 11hs
Tema: Mundo Guarani
- Apresentação do Coral da Aldeia Guarani Krukutu
Olivio Jekupé é escritor de literatura nativa e presidente da Associação Guarani Nhe e Poram. Apresenta-se com o Coral da Aldeia Krukutu (Parrelheiros, SP)
28 de abril - 11hs
Tema: Mundo Pankararu
- Oficina de penachos & saia do "Escondido" Pankararu
Com Bino Pankararu, cacique da Comunidade Real Parque Pankararu, que vive na aldeia Panakararu, em Pernambuco
29 de abril - 11hs
Tema Mundo Pankararu II
- Apresentação de Bino Pankararu e os "Escondidos"
Bino Pankararu vai se apresentar ao lado de outros jovens da tribo.

fonte:



segunda-feira, 12 de março de 2012

Pau-Brasil: nosso primeiro caso de biopirataria

Diversos cronistas estiveram no Brasil e entre estranhamentos e encantamentos, nos deixaram relatos que deveriam ser leitura obrigatória para entendermos melhor a história de nosso país e os povos que aqui já estavam.  Entre eles, os franceses André Thevet ( 1502-1590) e Jean de Léry (1534-1611) se destacam pela sensibilidade e curiosidade em relação à fauna e a flora brasileiras e, principalmente, o povo que travaram maior contato: os Tupinambá.
André Thevet, franciscano que chegou em terras brasileira em 1555, conta como o milho, a mandioca e cauim fizeram parte da receptividade dos indígenas logo que desembarcou em cabo frio:

" Um de seus maiores, o morbixauaçu, ou seja, seu rei, presenteou-nos com farinha de raízes e cauim, beberagem feita de uma espécie de sorgo chamado avati (milho), cujos grãos são do tamanho de ervilhas. Há o avati preto e branco(...)". 
Como não poderia deixar de ser destaque, o pau-brasil também é descrito e sua extração ganhou uma gravura que ficou eternizada:

" Tal árvore, tendo sido descoberta em nosso tempo, serviu de grande alívio aos mercadores...chegando a este país e vendo os selvagens adornados como tão belas plumagens de cores diversas e também que esse povo tinha o corpo pintado diversificadamente, indagaram qual o meio dessa tintura, e alguns lhes mostraram a árvore a que chamamos brasil e os selvagens oraboutan".


" Os navios estão às vezes longe quatro ou cinco léguas do lugar onde se faz o corte, e todo o lucro que essa pobre gente tem de tanto esforço é alguma camisa ordinária ou o forro de alguma vestimenta de pouco valor. Eu fiz reproduzir aqui o desenho, tanto da árvore como dos homens que trabalham para derrubá-la e parti-la em pedaços, o que lhes custa tanto esforço que, tendo-a levado até os navios, podem-se ver, depois de algumas viagens, suas costas todas machucadas e feridas pelo peso da madeira, tão pesada e maciça como todos sabem, e não deve surpreender que estejam nus e carregando tão longe essa carga..."

Jean de Léry, missionário calvinista que viveu entre os Tupinambá do Rio de Janeiro no século XVI, registrou em seu livro "Viagem à Terra do Brasil" relatos preciosíssimos em que aborda os costumes  dos Tupinambá com observações pontuais. Léry afirmava que "por mais obtusos que sejam, atribuem esses selvagens maior importância à natureza do que nós ao poder e à procedência divina".

Esse delicioso diálogo que Léry  travou com um ancião Tupinambá, mostra uma grande sensibilidade por parte desse povo e nos alerta para o primeiro caso de biopirataria no país :

“Uma vez um velho me perguntou:
- Por que vocês, maír e peró* , vem buscar lenha de tão longe para se aquecer? Vocês não tem madeira em sua terra?
Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele pensava, mas dela tirávamos tinta para tingir.
- E vocês precisam de muita?, perguntou o velho imediatamente.
- Sim, contestei-lhe, pois em nosso país existem negociantes que possuem panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias que vocês nem imaginam e um só deles compra todo o pau-brasil que vocês tem, voltando com muitos navios carregados.
- Ah!, retrucou o selvagem, mas esse homem tão rico, de que me fala, não morre?
- Sim, disse eu, como os outros.
- E quando morre, para quem fica o que deixa?
- Para seus filhos, se ele tem, ou para seus irmãos ou parentes próximos, respondi.
- Na verdade, continuou o velho - que como se vê não era nenhum ignorante - , vejo que vocês, maír, são uns grandes loucos, pois atravessam o mar e sofrem grandes problemas, como dizem quando aqui chegam. E no fim trabalham tanto para amontoar riquezas para seus filhos e parentes. A terra que os alimentou não será capaz de alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos. Mas estamos certos de que, depois de nossa morte, a terra que nos sustentou os sustentará também e por isso descansamos sem maiores preocupações.

*Os Tupinambá chamavam os franceses de maír e os portugueses de peró.

Mais:

LÉRY, J. Viagem à terra do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1980.
THEVET, A. A cosmografia universal de André Thevet, cosmógrafo do Rei. Ed. Fundação Darcy Ribeiro. 2009

quinta-feira, 8 de março de 2012

Kunhangue Ara: é dia de mulher!!

Chego agora da aldeia Tekoa Pyau e me convenço cada vez mais de que aprendo "horrores" convivendo com as mulheres Guarani. Apesar da aparente timidez e quietude, elas tem me ensinado a força do amor incondicional, a importância da serenidade e o poder do sexo feminino na organização social, detenção de saberes e continuidade do nhanderekó ("nosso jeito de ser Guarani").

   Foto: Mercy Mtaita

É comum pensarmos que elas não participam muito da vida política e, nos últimos tempos, percebo  que não há equívoco maior. Estrategistas e sonhadoras, possuem um jeito peculiar de atuar diretamente nas decisões e nos rumos que a comunidade vai tomar.
Jerá, Tatanxi, Jasuká, Pará, Poty, Ará, Kerexu e outras, mostram uma altivez e um orgulho de seu povo que deixa muita gente desconcertada, principalmente aqueles que as julgam "inferiores e de outro mundo".
A elas eu dedico esse dia de "Kunhangue Ara", dia de mulher.
A elas eu peço desculpas pela nossa ignorância.

Foto: Luciana Galante



quarta-feira, 7 de março de 2012

Jandira Kerexu, a força do Jaraguá




Tristeza na aldeia Jaraguá - despedida de Jandira

Por CTI


Foto: Acervo CTI
Cacica Jandira, assim conhecida, á direita da foto

No dia 03 de março de 2012, Jandira Augusto Venício, Kerexu, faleceu no hospital de Pirituba onde havia sido internada após um AVC ocorrido em sua casa, na aldeia do Jaraguá em São Paulo.

Seu corpo foi velado na escola e na opy’i (casa de rituais) na sua aldeia, com manifestações comoventes de todos os órfãos que deixou. Apesar de sua placidez, lideranças embalavam sua alma afirmando que seus parentes ficariam bem e que em amba porã, para onde estava indo, haveria mata em abundância e muito kaguyjy.

Em seus 78 anos de vida, Jandira criou na aldeia do Jaraguá - a menor Terra Indígena do país com apenas 1,7 hectares - 15 filhos, incluindo os que adotou plenamente, 35 netos e 33 bisnetos. Órfã de mãe ainda criança, cuidou incessantemente de todos aqueles, de várias aldeias, que na doença e na necessidade a procuravam.

A cacica Jandira, assim conhecida após a morte de seu marido Joaquim, integra a geração de caciques e lideranças que na década de 1980 iniciaram e orientaram o movimento guarani pelo reconhecimento de direitos territoriais e pela regularização de suas terras situadas nas regiões sul e sudeste do país. Faleceu com a esperança de ver finalizado o longo processo de ampliação da TI Jaraguá e com o desejo de paz.

Era ela a memória viva do lugar onde foi formada uma aldeia guarani, ao lado de um córrego com água cristalina e animais silvestres, ambiente que rapidamente se deteriorou com a contaminação das nascentes fora da aldeia e da abertura de estradas. Nos últimos 10 anos, apesar de todas as perdas que sofreu, ainda lhe eram impingidas contas de água de valores absurdos que a angustiavam.  

Se a pequena terra era insuficiente, em seu coração o espaço era infinito para acalentar e  abrigar várias gerações.

Fonte: http://www.trabalhoindigenista.org.br/

segunda-feira, 5 de março de 2012

Lu Galante: Micaela, a guerreira dos andes

Lu Galante: Micaela, a guerreira dos andes: Nada mais justo do que homenagear essa semana (e sempre!) algumas mulheres que tiveram presença marcante na história da América Latina. Pena...

Micaela, a guerreira dos andes

Nada mais justo do que homenagear essa semana (e sempre!) algumas mulheres que tiveram presença marcante na história da América Latina. Pena não dar conta de homenagear todas, afinal muitas guerreiras encontram-se no anonimato e outras nunca tiveram o destaque que mereciam. Micaela Bastidas Puyucahua é uma delas, não vamos encontrá-la nos livros de história.
Micaela nasceu em Pampamarca, Apurimác, Perú por volta de 1745. O pai de origem africana e a mãe indígena, lhe conferiram características físicas muito peculiares, de uma beleza ímpar. Aos 15 anos casou-se com José Gabriel Condorcanqui Noguera, mais conhecido como Tupac Amaru II e com ele teve 3 filhos: Hipolito, Mariano e Fernando.

Estrategista, esteve ao lado de Tupac Amaru II quando este sitiou Cusco, em 1781. A grande rebelião anti colonial explodiu na Província de Tinta, que estava ficando despovoada devido ao trabalho forçado da população nas minas de prata lideradas pelos espanhóis. Juntos, Tupác e Micaela "levantaram poeira" nos andes: decretaram liberdade aos escravos, aboliram impostos, entre outras façanhas. Em pouco tempo, milhares de mestiços, indígenas, escravos e camponeses não obedeciam mais às exigências da Coroa Espanhola.
Micaela enviou várias mensagens a Tupác para que ele invadisse Cusco de uma vez por todas, antes que os espanhóis fortalecessem suas defesas e os rebeldes se dispersassem. Capturada em 1781 e "puxada pelo rabo de um cavalo", Micaela entra na Praça Maior de Cusco."Ela vem dentro de um saco de couro, desses que carregam mate no Paraguai. Os cavalos arrastam também, junto ao cadafalso, Tupác Amaru e Hipólito, o filho mais velho.  Outro filho, Fernando, olha...". Micaela sobe ao tablado e o verdugo busca a sua língua, mas não consegue silenciá-la. A argola que aperta seu pescoço fino não é suficiente para matá-la, é preciso que os algozes enrolem laços em seu pescoço e lhes deem chutes no estômago e nos peitos para finalizar o suplício.
Nesse dia, Intip, o Deus Sol, se escondeu.

Mais:

Galeano, Eduardo: As veias abertas da América Latina. Ed. Paz e Terra. 1976.
______________. Mulheres. Ed. L&PM Pocket. 1998.